quarta-feira, maio 7

Lembranças de Camarim

Foi paixão a primeira vista quando pisei no palco para realizar meu primeiro teste de Teatro. Foi algo emocionante e indescritível ver a expressão das pessoas quando dizia as minhas falas. Na minha mente, "Olha! eu consegui fazer com que eles rissem!". No meu âmago, uma paixão avassaladora e um sentimento inigualável surgiram: o amor pelo Teatro.

Tenho uma lembrança muito engraçada comigo. Quando era pequeno, gostava de pensar no banho quente. Naquela brincadeira com a água e o corpo, a minha mente, ainda infantil e inocente, raciocinava numa velocidade impressionante. Tudo era novo. Todas as situações mostravam uma nova descoberta. E a minha cabeça maquinando. Sonhava que, no dia do meu aniversário, eu pudesse fazer uma espécie de show aos convidados. Queria fazer com que eles percebessem meu potencial que, não sei como, eu já sabia ter para a exibição em público. Consegui formar uma lembrança que, até hoje, tenho comigo.

Ano depois, com a chegada da adolescência, da vergonha, e da maldade que os outros praticavam, comecei a me fechar. Estava explodindo de vontade de aparecer. De cantar, dançar, interpretar, chorar, rir e mostrar para todos o quão capaz eu era. Mas não o fazia. O medo da vergonha, da humilhação, da chacota eram mais novos que a ansiedade e o amor pela exibição que eu já tinha comigo anos atrás.

E então descobri a via de escape para me expressar: o palco. Amei colocar a intensidade de tudo o que sentia naquelas falas. E, melhor ainda, ninguém poderia tirar uma com a minha cara, porque aquele no palco não era eu. Era a personagem. Percebe a lógica que a mente encontra? Consegui, através do Teatro, expressar tudo aquilo que sentia sem me queimar, sem que me ridicularizassem.

Junto com o Teatro, veio a escrita. Não sei, deve ser de outras vidas, mas eu, também não sei porque, sempre consegui me expressar melhor na escrita. Coloco no papel (e no teclado) tudo aquilo que está dentro de mim, coisa que, provavelmente, eu não faria se estivesse falando. É mais fácil, pelo menos para mim, se expressar na escrita, porque não há um interlocutor direto, que ouve e opina naquele mesmo instante. Há espaço para colocar, sem pressa e sem medo de estar fazendo papel de estranho, tudo aquilo que você quer expressar.

Sou assim. Sou eterno ator. Eterno escritor. Aprendiz da vida, que me ensina todos os dias lições valiosíssimas. Aprendiz das pessoas que me rodeiam que dão, mesmo sem perceber, altas reflexões sobre tudo.

Teatro, talvez, você seja o amor da minha vida. Talvez seja você que me complete e me mostre o verdadeiro amor. Só você me dá prazer. Só você me faz rir e chorar. Perceber que tudo isso é apenas mais uma peça e eu, mais um ator, nesse palco gigantesco que é essa vida de cinzas, horas e caretas.

Um comentário:

Renato Scatolin disse...

trago comigo quase nenhum arependimento... mas poderia dizer q um deles eh de nunca ter pisado num palco.. sei que arrasaria! mas sempre eh tempo... quem sabe nao piso daqui um tempo.... tiozao!