quarta-feira, junho 25

A Incerteza de gostar daquilo que não é certo

Tudo aquilo que é metódico, certo e intocável me assusta. Toda essa rigidez de padrões e costume me deixa um pouco... com medo.

Sempre gostei do ambíguo; daquilo que tem várias faces e fases. Ficar incerto, ao leo, e apenas reflitir sobre o mundo sempre foi o meu comportamento na maior parte do tempo. Enquanto muitas pessoas vivem sem pensar, eu vivo pensando. E, que fique bem claro, não vivo para pensar, ok?

Mas, sometimes, isso faz com que eu fique saturado. De saco cheio. Olho às vezes para uns do tipo "pai de família", com cara de poucos amigos, relógio no pulso direito, maleta de couro em uma das mãos, e penso: "Serei um dia assim?".

A vida é tão instável. As pessoas seguem por um caminho e acabam no final de um completamente diferente. Tudo é tão sinuoso, que, ao meu ver, o metodismo chega a ser inútil! "Para quê tudo isso se amanhã, ao sair da minha casa, eu corro perigo de vida?".

Sei lá, viu... E, ao mesmo tempo penso que, se não fosse pelo fato de pensar tanto, não ficaria tão encanado e poderia viver como um cara comum. Sim, eu sou incomum. Ou talvez todos sejam e não tenham coragem de assumir sua incomunidade... (Daí o incomum seria comum, e não haveria discriminação!)

Vou explicar porque eu odeio tanto o rígido. O Conservadorismo, por exemplo, ele é um padrão de regras que alguém julgou ser o correto para um conviver ideal, ideal esse também pressuposto por esse alguém. Como eu posso adotar isso? Como eu consigo aderir à esse comportamento?

É incabível, inviável! Todos são diferentes! Todas as pessoas têm suas próprias idéias e ideais. Não é justo eu impor, como Sociedade, uma norma ou conduta para que todos sigam. Será que o Ser Humano é tão burro e irresponsável ao ponto de que alguém, no caso Estado e Sociedade, imponha leis e costumes, respectivamente, para si mesmo? Mas não se esqueça de que Estado e Sociedade são formadas por pessoas também! Quem me garante que elas não coloquem seus interesses e vontades naquilo que criam?

É por isso que o Poder é bom. Porque, quando você está no poder, todos tentam te imitar, te seguir, e você se sente importante. NOTA: Ser humano é um bicho carente que precisa de atenção. O Poder é delicioso porque satisfaz uma das características mais antigas e primitivas do homem: a carência e a vontade de aparecer.

Talvez seja por isso que eu amo Teatro. Consigo atenção e satisfaço o show boy embutido em mim.

Prova de que a vida é incerta é esse post. Criei com o intuito de escrever sobre uma coisa, e no final, terminei escrevendo sobre mim.

Mas não vou apagar. Que esse post seja a prova internéticamente escrita de que a Vida toma caminhos que não podemos conter. Só temos que acreditar que alguém, ou algo, superior nos rege e toma conta de nós enquanto trilhamos o nosso caminho no Planeta Terra. E que sempre age querendo nosso bem, mesmo a gente achando o oposto...

segunda-feira, junho 16

A Viagem

Sem dúvida, uma das paixões mais avassaladoras que trago comigo é o instinto de viajar. Simplismente sou louco por novas culturas, novas pessoas, gestos, rostos e novas filosofias e formas de encarar essa vida caleidoscópica.

Ontem, domingo, voltei de uma viagem que fiz. Mochilão nas costas, fones no ouvido, óculos no rosto e garrafa d'água na mão. Tudo pronto! Ao chegar no guichê (Hey! Eu nunca escrevi guichê!), uma mulher de aspecto não muito amigável me atendeu. Retirei minha passagem, dei um sorriso de pena para ela e desci para o terminal.

O ônibus chegou. Entrei e sentei no meu lugar favorito: uma poltrona na janela do fundo. E fiquei observando as pessoas que chegavam no ônibus. O primeiro a ser digno de nota foi um cara gordo, de respiração irritantemente ofegante (daquele tipo que respira fundo e com força, mas baixinho!) que, graças aos céus, sentou na minha frente.

O segundo tipo foi um senhor por volta dos 50, que usava fones de ouvido num volume tão alto que a senhorinha a frente dele pediu, gentilmente, para abaixar o volume. Era uma dessas transmissões de futebol onde a única coisa que você realmente entende é o "goooooooolll" que o narrador exclama. Enfim... Cada um ouve o que te satisfaz, né?

A terceira figura foi a minha companhia de viagem. Uma adolescente de franja pintada de vermelho-papel-crepom, cabelo oleoso e um celular irritante! Meu Deus, ao sentar do meu lado, ela abriu sua bolsa (de zebra! ¬¬") de onde tirou uma máquina fotográfica. Ao mudar as fotos que estava vendo, a máquina emitia um inesperado e angustiante barulhinho, que, juro, se ela emitisse mais uns 2 daqueles barulhos, eu a jogaria privada-de-ônibus abaixo!

Mas a Srta. Barulho não parou por aí. Ao começar a pegar no sono, coisa que normalmente não consigo em ônibus, o celular dela emitiu um "Please don't stop the music" da Rihanna, que, instantaneamente gerou uma vontade imaculada de atacar a garota. Me controlei. Bebi uma água e, já puto da vida, liguei a luz e comecei a ler meu livro. Ela olhou de soslaio para mim com aquele jeito de "Não vai apagar essa maldição de luz?" e retruquei com um olhar pérfido de "Cale a boca, você acabou de me acordar, sua nojenta".

Ok. O ônibus fez a sua parada. Fui ao banheiro, lavei o rosto, tomei um suco, comprei o costumeiro chocolate e de volta para a poltrona.

"Vamos ver se eu volto a dormir". E consegui! Consegui dormir no ônibus!! Mas, acreditem, o celular da infeliz gritou um "Olha a mensagem!" que fez com que eu virasse para ela e perguntasse: "Por que você não coloca o seu celular no...(essa pausa foi estratégica!) modo vibratório?". Fiz isso com uma amplitude de segundas palavras que a menina ruborizou e concordou de leve com a cabeça.

Ok. Agora sim, eu posso voltar a dormir. Mas, daí, insight! E quando eles vem (acento?), fico pensando muito; um pensamento se conecta com uma vivência, uma idéia. No final, é uma teia de pensamentos tecida por experiências e percepções. O insight dessa vez foi sobre manias.

Todos que eu citei aqui, tinham manias e jeitos peculiares no seu modo de viver. Será que eu sou assim também? Será que alguém, nesse momento, também está escrevendo ou falando sobre o meu modo de agir ou falar? Não que eu me importe, mas seria um antagonismo fantástico pensar na possibilidade disso acontecer. Ia me sentir num dos filmes do Tarantino.

Engraçada como é essa vida. É engraçado eu ter essa percepção de como os nossos comentários e pensamentos podem ser aplicáveis a nós mesmos. Por que eu não sou como os outros? Por que eu simplismente não poderia passar por cima desses fatos, rir das manias e curiosidades alheias e, no máximo, comentar com alguém sobre? Por que eu sempre aplico as minhas opiniões sobre mim mesmo?

Talvez seja essa vontade louca de evoluir e procurar sempre a melhor forma de ser. Talvez seja a curiosidade por se sentir como o alvo da própria ferrenha opinião. Ou talvez eu só seja um pouco estranho.

Quem sabe? Só sei que a cada dia que passo nessa Terra, me descubro, agora que tenho maturidade para me auto-avaliar de acordo com os meus preceitos.

E estou adorando ser alvo de mim mesmo. E odiando ao mesmo tempo, porque me obriga a ser sempre uma versão melhor.

sexta-feira, junho 6

Aestático

Não sou uma pessoa ativa. Dessas que correm, nadam, caminham, dançam, tudo de forma intensa e contínua. Na verdade, admiro esse tipo esportista. Até sonho em ser um, um dia, talvez...

Sou caseiro. Gosto de livros, CD’s, filmes que passam depois do Zorra Total. Gosto de ouvir rádio (rádio?!), Antena 1, escrever, ler o escrito, reescrever. Tomar café na minha caneca grandona e andar de meia e chinelo pela casa. Adoro ir ao cinema, ir ao Teatro e à Biblioteca. Sem compromisso, sem pressão.

E isso faz com que eu aparente ser monótono e mofado. Mas não. Meu encéfalo trabalha silencioso (adoro Predicativos do Sujeito; caso eventual curiosidade da nota, vide a Gramática mais próxima), quieto e sinuoso. Tudo o que absorvo modifica idéias e pensamentos, todo o tempo, toda hora.

Talvez minha maneira de ser esteja voltada para o intelecto. Por causa disso, já fui tachado de vagabundo, inútil, sem iniciativa.

(Dica: a intensidade das coisas que falam de você depende de quem fala; se alguém mesquinho, arrogante e ignorante te chamar de filho da puta, relaxe. Aprenda que, por mais fortes que sejam as palavras, a verdadeira intensidade delas está relacionada com a pessoa que as emite).

Enfim, a pessoa que disse isso é insegura e um pouco deprimida, fazendo com que eu não desse muita bola para a opinião dela.

Ok. Como o nome do post sugere, eu sou aestático (adoro Neologismos!). Tenho medo daquilo que dura para sempre. O material imutável me assombra, e me arrisco a dizer que isso nem existe. Mas não gosto da estaticidade (neologismo?) de pensamento, de corpo, de estilo e de comportamento.

Sofremos metamorfoses. Mas poucos abrem conscientemente os seus corpos e mentes para esse processo de transformação tão valioso. O pior tipo é aquele que pensa que tudo é para sempre. As filosofias, os comportamentos... Isso é tão restrito ao universinho pessoal que chega a me enojar.

É de uma prepotência nojenta pensar que só é certo aquilo que você pensa, prega e faz. O que é certo e errado depende dos preceitos. E os preceitos mudam de acordo com o tempo, lugar, ideologias e sociedades. Logo, o que é certo e errado mudam. E é essa filosofia que temos que ter! Esse é o mandamento n°1 do respeito.

Afinal, a pessoa que não pensa assim, ou nessa linha de raciocínio, não respeita as diferenças porque pensa que o correto é ela e nada mais. Todo o resto diferente é errado e hediondo.

Meu Deus, quanta ignorância! Como eu queria estar rodeado de pessoas menos egocêntricas. Como eu queria...

Chega de estagnar. De empacar. Bloquear o fluxo natural da mudança. É natural!
Chega! Chega. Chega...

quarta-feira, junho 4

"A Cinza das Horas" - II

No post abaixo usei a obra que não tinha lido até então, "A Cinza das Horas" de Manuel Bandeira, para refletir sobre o tempo. Minha enzima intelectual há tempos queria ler esse livro. Pois bem, hoje, estudando na Biblioteca, estalo, Slept!, "Pegue o livro!".

E peguei. Eis o primeiro poema:

Epígrafe

"Sou bem nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugiu como um furacão,

Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó -
Ah que dor!
Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu:

Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.

- Esta pouca cinza fria."

Qualquer semelhança é obra do meu destino. Talvez você não entenda a identificação que eu tive, porque nunca, mesmo se quisesse, poderia me expressar totalmente. Esse poema é um estilhaço de vidro que compõe o espelho por onde a minha vida passa.

Obrigado Adriana¹. Graças à você encontrei mais um pedaço de mim na Literatura Brasileira.

¹: Vide começo do post abaixo.

terça-feira, junho 3

“A Cinza das Horas"

Mais uma vez apelo para a cópia literária. “A Cinza das Horas” é um livro escrito por Manuel Bandeira, que eu ouvi numa música da Adriana Calcanhoto, indicada pela Ana Carolina, no programa Saia Justa, do GNT.

Não li o livro. Mas o maquinário imaginativo já começou a trabalhar quando ouviu pela primeira vez o tão curioso título. Imaginei, na mesma hora que conheci esse nome, um relógio com ponteiros que se desfarelam em cinzas com o passar das horas. E uma mulher, com um telefone antigo do lado, olhando a cena e esperando o seu amor com os olhos borrados de rímel e lágrimas.

Meu Deus. Como sou dramático.

E toda essa viagem psico-psicodélica me inspirou a escrever sobre o tempo e as conseqüências que os seus atos promovem nas nossas vidas.

Ele é relativo. Quando estamos entediados e impacientes, ele tarda a andar. Quando estamos nos divertindo ou fazendo algo que dá prazer às nossas vidas, ele passa rápido.

Passa rápido, rasteiro e ligeiro por entre os nossos dedos e vidas. Quando vemos, temos que consultar catálogos da Natura para comprar anti-idades, anti-rugas, anti-depressivos. Sim, hoje, no século XXI, as pessoas ainda se deprimem com o corpo e face, dando ação de anti-depressivo aos cosméticos modernosinhos.

Perdoe Deus, perdoe...

Ainda pensamos que o nosso corpo é tudo. Mero engano. Nossa mente é tudo. E, pensando através desse prisma, o Tempo é positivíssimo. Ele é o caminho da Evolução espiritual.

O Tempo é um justiceiro implacável. Ele, ao mesmo tempo, destrói seu corpo e constrói sua mente. Ele molda o pensamento e a opinião, mas faz com que a Lei da Gravidade fique, digamos, “mais evidente”.

Não ligue para as rugas. Nem pés-de-galinha. Somos intrusos no Planeta Terra. Somos espíritos e essências dentro de um invólucro que tem como função, transportar toda essa carga espiritual para um plano onde possamos evoluir. O corpo nada mais é do que um veículo para evoluir.

Portanto, não ligue se o seu ‘carro’ foi riscado, enferrujado e amassado pelo Tempo. Tudo o que é material se deteriora. E essa é a nossa sorte, porque não somos materiais. Somos muito mais. Somos um fluido de emoções e decepções, presos em frascos frágeis de pele e músculos.