Como de um chão de podres, de um chão seco, sem água, sem vida, quase que por um milagre, eu surjo.
O milagre do pensamento, esse milagre que chamam de Deus, faz brotar, do inorgânico e do orgânico falido, o botão.
O botão surgiu de uma haste verde, dentre os verdes mais descarados e díspares.
Botão esse que se rompe, e deixa entrar dentro de si, o vácuo do qual é rodeado.
Ao mesmo tempo que entra o vácuo, sai a vida.
A vida de quem escreve.
Ao mesmo tempo que entra o vácuo, sai a vida.
A vida de quem escreve.
A vida de escritor é estar a mercê de seu próprio cataclisma e resurreição.
É estar sempre inseguro sobre quantas marés e secas o seu caderno sofrerá.
A sua vida sofrerá.
Porque estar a mercê de si, na insegurança de si mesmo, é algo pavoroso e, de tão inconstante, nos faz beirar à loucura.
A lacuna que é preenchida pela vida é tão mal preenchida pela incerteza que, de certo, me faz parar e pensar: "Por que sou o que sou?".
Não sei - respondo a mim mesmo.
Não sei, eu repito.
Ressurgir e reinterar-se é algo tão doloroso, que, de tanta dor, é necessária tanta morfina, que acabo entrando em letargia, sem nem saber o quão doloroso é.
Mas sei que é.
Sei que dói.
Sei porque dessa dor e desse pavor já provei.
Das madrugadas sem sono, rodeado de minha própria sombra de filósofo, corre o fel. Corre o fel, que por instante e por uma careta, engulo sem questionar.
Engulo na esperança de poder passar esse mal que é ser o que sou.
Burro eu, não?
Engulo um antídoto produzido por mim mesmo, na esperança de curar a mim mesmo.
Engulo um antídoto produzido por mim mesmo, na esperança de curar a mim mesmo.
Redundante... Eu sei.
Mas é o risco que eu corro quando tudo se aquieta, e a minha alma parece imensa demais, larga demais, feia demais.
E nesse pavor de encarar a si mesmo, acabo recorrendo ao meu maior desabor: provar do meu próprio veneno.
E nesse pavor de encarar a si mesmo, acabo recorrendo ao meu maior desabor: provar do meu próprio veneno.
E eis que sigo, cabisbaixo, imerso no estupor de mim, de lápis e folha branca como giz na mão, rabiscando os próprios pensamentos.
A minha própria filosofia.
A minha própria vida.