segunda-feira, junho 16

A Viagem

Sem dúvida, uma das paixões mais avassaladoras que trago comigo é o instinto de viajar. Simplismente sou louco por novas culturas, novas pessoas, gestos, rostos e novas filosofias e formas de encarar essa vida caleidoscópica.

Ontem, domingo, voltei de uma viagem que fiz. Mochilão nas costas, fones no ouvido, óculos no rosto e garrafa d'água na mão. Tudo pronto! Ao chegar no guichê (Hey! Eu nunca escrevi guichê!), uma mulher de aspecto não muito amigável me atendeu. Retirei minha passagem, dei um sorriso de pena para ela e desci para o terminal.

O ônibus chegou. Entrei e sentei no meu lugar favorito: uma poltrona na janela do fundo. E fiquei observando as pessoas que chegavam no ônibus. O primeiro a ser digno de nota foi um cara gordo, de respiração irritantemente ofegante (daquele tipo que respira fundo e com força, mas baixinho!) que, graças aos céus, sentou na minha frente.

O segundo tipo foi um senhor por volta dos 50, que usava fones de ouvido num volume tão alto que a senhorinha a frente dele pediu, gentilmente, para abaixar o volume. Era uma dessas transmissões de futebol onde a única coisa que você realmente entende é o "goooooooolll" que o narrador exclama. Enfim... Cada um ouve o que te satisfaz, né?

A terceira figura foi a minha companhia de viagem. Uma adolescente de franja pintada de vermelho-papel-crepom, cabelo oleoso e um celular irritante! Meu Deus, ao sentar do meu lado, ela abriu sua bolsa (de zebra! ¬¬") de onde tirou uma máquina fotográfica. Ao mudar as fotos que estava vendo, a máquina emitia um inesperado e angustiante barulhinho, que, juro, se ela emitisse mais uns 2 daqueles barulhos, eu a jogaria privada-de-ônibus abaixo!

Mas a Srta. Barulho não parou por aí. Ao começar a pegar no sono, coisa que normalmente não consigo em ônibus, o celular dela emitiu um "Please don't stop the music" da Rihanna, que, instantaneamente gerou uma vontade imaculada de atacar a garota. Me controlei. Bebi uma água e, já puto da vida, liguei a luz e comecei a ler meu livro. Ela olhou de soslaio para mim com aquele jeito de "Não vai apagar essa maldição de luz?" e retruquei com um olhar pérfido de "Cale a boca, você acabou de me acordar, sua nojenta".

Ok. O ônibus fez a sua parada. Fui ao banheiro, lavei o rosto, tomei um suco, comprei o costumeiro chocolate e de volta para a poltrona.

"Vamos ver se eu volto a dormir". E consegui! Consegui dormir no ônibus!! Mas, acreditem, o celular da infeliz gritou um "Olha a mensagem!" que fez com que eu virasse para ela e perguntasse: "Por que você não coloca o seu celular no...(essa pausa foi estratégica!) modo vibratório?". Fiz isso com uma amplitude de segundas palavras que a menina ruborizou e concordou de leve com a cabeça.

Ok. Agora sim, eu posso voltar a dormir. Mas, daí, insight! E quando eles vem (acento?), fico pensando muito; um pensamento se conecta com uma vivência, uma idéia. No final, é uma teia de pensamentos tecida por experiências e percepções. O insight dessa vez foi sobre manias.

Todos que eu citei aqui, tinham manias e jeitos peculiares no seu modo de viver. Será que eu sou assim também? Será que alguém, nesse momento, também está escrevendo ou falando sobre o meu modo de agir ou falar? Não que eu me importe, mas seria um antagonismo fantástico pensar na possibilidade disso acontecer. Ia me sentir num dos filmes do Tarantino.

Engraçada como é essa vida. É engraçado eu ter essa percepção de como os nossos comentários e pensamentos podem ser aplicáveis a nós mesmos. Por que eu não sou como os outros? Por que eu simplismente não poderia passar por cima desses fatos, rir das manias e curiosidades alheias e, no máximo, comentar com alguém sobre? Por que eu sempre aplico as minhas opiniões sobre mim mesmo?

Talvez seja essa vontade louca de evoluir e procurar sempre a melhor forma de ser. Talvez seja a curiosidade por se sentir como o alvo da própria ferrenha opinião. Ou talvez eu só seja um pouco estranho.

Quem sabe? Só sei que a cada dia que passo nessa Terra, me descubro, agora que tenho maturidade para me auto-avaliar de acordo com os meus preceitos.

E estou adorando ser alvo de mim mesmo. E odiando ao mesmo tempo, porque me obriga a ser sempre uma versão melhor.

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