Ele acordou antes do relógio despertá-lo. Abriu os olhos e espreguiçou-se daquela maneira gostosa. Lançou os olhos em direção à cortina de algodão cru que balançava ao ritmo da brisa do mar.
Calçou aqueles velhos chinelos, pegou aquela velha xícara e requentou aquele velho café de ontem. Bocejou, esfregou os olhos, e foi ao banheiro. Sentou-se, e fechou os olhos, naquele momento de alívio e preguiça. Lavou as mãos, e foi a varanda ver o mar. O céu, daquele mesmo tom de cinza clareado, apresentava-se estranho.
Ele voltou para dentro de sua casa, e colocou aquela música de dias como aqueles: dias preguiçosos. Colocou o café na xícara e o bebericou sentado no sofá pequeno e confortável de sua pequena e confortável sala. Fechou os olhos novamente, e aspirou aquele cheiro inconfundível de café ao som da música. Riu do dia anterior. Riu do amor que foi embora ontem, e que voltaria hoje. E se pegou lembrando da noite passada.
Lavou a xícara. Comeu uns biscoitos. E arrumou um livro desalinhado da estante. Tomou o banho quente, na luz cinza e triste do dia. Lavou-se, e a preguiça escorrera pelo ralo. Voltou ao quarto, vestiu-se, desligou o rádio, e desceu para o quintal, onde o carro o esperava para mais um dia, deixando a cama desarrumada e a toalha molhada em algum canto.
Deu partida. E foi. Andou naquela estrada da encosta em direção àquela pequena cidade onde trabalhava. Lá embaixo, as ondas batiam na escarpada. A espuma soltava o cheiro de mar. E o aroma impregnou no carro. Afastou-se da costa, e cruzou os campos de trigo, onde as velhas olharam-no com aquele sorriso de velhice. Retribuiu com o aceno jovial de sempre.
Chegou. Trabalhou. Tomou decisões. Escolheu. Conversou. Almoçou. Trabalhou. Tomou mais decisões. Escreveu. Riu do e-mail. Respondeu com amor. E lembrou de novo da noite anterior. Um dos únicos raios de sol passou pela vidro polido da branca janela de seu escritório. E pensou na sorte que tinha em estar ali. Em viver com o amor de sua vida. Em viver na casa que sempre sonhara ter. No emprego que sempre quisera ter. E na vida que levava.
Ligou. Marcou no petit caffé do Centro. E ao chegar, seu coração bateu mais forte. Instintivamente, olhou para o espelho. Ajeitou o cabelo, e sorriu em direção a. Sentou confortavelmente.
- "Os pães daqui são ótimos!" - disse.
- "Você acha que marcamos aqui por pura coicidência?".
Ele riu baixinho. Colocou sua mão na mesa. A outra entrelaçou-se a sua. E as alianças faíscaram a mais um raio de sol que iluminara o dia dele. O céu continuava naquele cinza de antes, mas parecia mais feliz. As cores pareciam mais vivas. Tudo era mais real e puro quando estava com o seu amor.
Comeram aqueles ótimos pães. E tomaram um café forte. Ao longe, bem ao horizonte, nuvens anunciavam a garoa. Saíram, e foram na pequena mercearia. Seus olhos registravam preços, e sua mente fazia contas. Comparava. Pensava. E seu amor era alheio. Primava pelo melhor, e sempre o escolhia. Discutiram de forma doce. Riram e chegaram num concenso.
Pensando no que iria cozinhar, ele começou a colocar tudo o que precisava. Macarrão. Tomates. Cebolas. Alho. Temperos. Manjericão. Cenoura. Berinjela. Maçãs. E tudo o que precisaria para a semana.
Compraram e foram para a casa. Cozinharam. Comeram. Conversaram. Riram. Ele leu. Seu amor assistia. Conversaram mais um pouco. Colocaram música. Dançaram. Riram. Caíram no chão coberto pela noite nublada e chuvosa. Fizeram planos de sair dali. Mas ali, tudo era tão perfeito, que logo abandonaram a idéia. Fizeram mais planos. Filhos. Mais alguém além dos dois. Seria tão bom...
Pensaram em nomes. Em móveis. Em espaço. E pensaram em mudar dali. Mas ali, tudo era tão perfeito...
Se amaram, como se fossem únicos, e eram, de fato. Conheciam os corpos um do outro como ninguém. Tudo era tão prazeroso. Tão único. Tão intenso e leve. E dormiram com o cheiro de grama molhada, que invadia o quarto através das frestas da janela de madeira. Ele levantou-se da cama e olhou seu Amor dormindo. Naquele momento de paz, olhou para o céu chuvoso, e numa prece rápida e silenciosa, agradeceu por tudo aquilo.
Esquentou a água, bebeu seu chá. E olhou o relógio na luz noturna da lua minguante que banhava a cozinha. O reflexo das gotas escorria pela parede e pelo relógio.
- "Preciso ir dormir" - dissera ele, baixinho.
- "Então vamos voltar para a cama" - respondeu o seu Amor.
Ele riu de espanto e prazer. E cedeu-se mais uma vez ao prazer pleno de estar com a pessoa que mais amava nessa sua vida. E adormeceu com aquele sorriso nos lábios.
Acordou com o cheiro característico do café preparado pelo seu Amor. Era diferente do seu café. Era mais forte. Ele levantou e ajudou com o café, beijando como sinal de presença. Sorriram com o simples fato de estarem um na presença do outro.
E assim começava um domingo chuvoso no meu paraíso...
6 comentários:
Darling, o único Paraíso que eu tenho ultimamente é a estação de metrô com esse nome. Rs.
adorei!!! acho que foi um sonho bem legal!
rs
Perfeito. Adorei seu blog.
Abraços,
Eric.
Perfeito. Adorei seu blog.
Meu paraíso está extreamente chuvoso...
Abraços,
Eric.
Nossa....
Adorei, vou chama-lo de poema, Me remeteu àos meus desejos. foi como se eu estivesse ali, sentindo tudo que você escreveu.
Na minha mente é um sonho e nada mais, mas no meu intimo é um dos meus maiores desejos e vontade.
A simples e pura felicidade.
Embora seja um post antigo, como só tive acesso a ele hoje, acho importante deixar um recado. Você escreve incrivelmente bem e é legal ler algo tão sincero e cheio de sentimento. Espero que alcance esse sonho e que ele seja ainda melhor. Abraço!
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